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“As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal”

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O livro “As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal”, está finalmente disponível em todas as livrarias portuguesas, numa edição da histórica Parceria António Maria Pereira, a mesma casa editorial portuguesa que editou, em 1934, a “Mensagem” de Fernando Pessoa.

Esta obra começa por ser um acto de amor, desde logo, pelo tempo que o seu autor teve de aguardar até encontrar quem apostasse devidamente no seu trabalho. Na verdade, “As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal” nasceu, enquanto projecto em curso, em Outubro de 2007. E foram precisos quase 10 anos de exposição na Internet para chegar à forma de livro.

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A forma, aliás, é ela mesma um acontecimento. O livro agora lançado tem as dimensões de 24 x 34 cm, um tamanho agigantado que permite aos desenhos e ao texto um respirar perfeito, nas suas 176 páginas. Estas dimensões, a elegância, a cor profusa e a irrepreensível qualidade e gramagem do papel dão-nos outra incrível surpresa: a editora conseguiu criar um produto quase luxuoso, dando-lhe anda assim um preço de venda ao público tão acessível quanto os 23,90 €.

“As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal”, tem como autor principal Miguel Moreira, que escreve o argumento e desenha as imagens sequenciais, coadjuvado por Catarina Verdier, responsável pela colorização. É um livro de BD que reputamos especialmente (embora não exclusivamente) “para adultos”, pela densidade e especificidades do texto.

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Depois de decidir-se a abordar o universo pessoano em BD, Miguel Moreira hesitou confessadamente no que tocava a que história contar. Foi após a leitura do texto pessoano “António Botto e o Ideal Estético em Portugal”, publicado em 1922 e subordinado ao tema da criação artística, que o lado biográfico de Pessoa se apresentou inevitável ao autor da obra agora editada.

Apresentando-se como uma biografia pessoana através da linguagem (supostamente) mais acessível da BD, este livro vai muito para além de outras novelas gráficas, já que desce a pormenores tão importantes quanto a génese do proto-heterónimo Charles Robert Anon, ou a descoberta que Pessoa faz do poeta americano Walt Whitman, e da sua obra seminal “Leaves of Grass“.

Recusando facilitismos, “As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal” dedica-se a focar todos os principais fenómenos de despersonalização do “drama em gente” pessoano, com espaço naturalmente privilegiado para Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. O destaque maior, no entanto, está guardado para o semi-heterónimo Bernardo Soares, através do qual Fernando Pessoa escreveu o “Livro do Desassossego”.

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Ao cinzento Bernardo Soares, quis Miguel Moreira dedicar uma atenção “outra”, imaginando um dia na vida do apagado empregado de escritório na Rua dos Douradores que foi o seu mundo; e apresenta-o sob a forma de um “livro dentro do livro”, a que nem falta título: “As Aventuras de Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa…”. Neste segmento, as palavras desaparecem e mostram-se apenas os elementos visuais mais sugestivos e as acções passíveis de representação e compreensão sem os textos originais do “Livro do Desassossego”.

Por tudo o que atrás deixámos dito, a recomendação é óbvia: “As Aventuras de Fernando Pessoa, Escritor Universal”, merece um lugar especial na biblioteca lá de casa. Para muitas horas preciosas de aprendizagem e prazer.