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O Judas de Pessoa

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No fascinante mundo das relações entre os homens, é fácil ver, à luz da História (e é sempre necessário, no mínimo, o afastamento de décadas), como as admirações de hoje podem ser, amanhã, crítica feroz, menosprezo irónico ou desdém invejoso.

A relação de Costa Brochado com Fernando Pessoa entra, sem dúvida, neste sistema de emoções voláteis. Mostram-nos as evidências que Costa Brochado, um admirador confesso de Fernando Pessoa (até duas décadas após a sua morte), chegou ao fim da vida carregado de azedume, senão ódio, contra a memória do mais universal dos escritores portugueses. As explicações para esta mudança radical de opinião fundam-se, claramente, na paixão política (e até pessoal, humana) de Costa Brochado por Salazar, figura que Fernando Pessoa criticou e ridicularizou sem piedade, em poesia e em prosa, como hoje bem sabemos.

De Idalino Ferreira da Costa Brochado, pode dizer-se ter sido um “intelectual orgânico” do Estado Novo, ainda que tal seja redutor, já que foi, em rigor, escritor, jornalista e historiador. Ou “historiógrafo”, como defendem muitos, devido à sua actividade política ligada à União Nacional e à defesa intransigente de Salazar e do Estado Novo. Foi, aliás, Secretário-Geral da Assembleia Nacional e da Câmara Corporativa. E porque a História nunca se faz sem a análise de todas as fontes possíveis, recomendo vivamente que possam os meus leitores consultar, com profundidade, as suas memórias em livro.

No jornalismo, Costa Brochado passou, entre outros, pelo Semana, pelo Comércio do Porto e por A Verdade (1933-1939), aqui a convite de António Ferro, responsável do Secretariado de Propaganda Nacional, na fase inicial do salazarismo. Especialmente na década de 1930, Costa Brochado privou com políticos de todas as cores, “todos quantos tinham interesse intelectual”, como dizia; e – naturalmente – artistas e intelectuais dos mais variados quadrantes.

Os encontros de Costa Brochado com Fernando Pessoa desenvolvem-se em 1935, na esteira do lançamento de «Mensagem», no ano anterior. E é pela mão de Costa Brochado, em artigo por ele assinado, no início da década de 1950 (“O Poeta da Mensagem”), que bem podemos ver as suas primeiras e segundas impressões sobre Fernando Pessoa:

“Fernando Pessoa era leitor de certas coisas políticas que eu escrevia, cheio de fé e de ilusões, aqui há uns vinte anos atrás, e, um dia, enviou-me o seu livro Mensagem com uma dedicatória intencional e surpreendente. Nunca o tinha visto, até aí, mas fiz, logo, desígnio de o visitar, agradecido, chegando à conclusão de que o local mais propício a esse encontro seria a sua sala de visitas literárias, lá em baixo, no sombrio Martinho da Arcada, em frente ao Tejo das caravelas e do mar salgado com lágrimas de Portugal.

Pessoa estava só, metido numa gabardine cuidadosamente abotoada, com a gola subida, roçando-lhe o cabelo, tendo sobre a mesa um dossier inglês repleto de papéis dactilografados em cuja leitura mergulhava profundamente os seus olhos piscos, de míope, esboçando, a espaços, sorrisos tímidos que morriam ironicamente na comissura dos lábios. Uma chicara de café, já frio, dava àquela mesa silenciosa e triste o ar de uma justificação desnecessária mas elegante, como importa aos homens do seu espírito.

Quando me abeirei dele, depois de o ter observado à vontade, foi como se estivéssemos cheios de nos ver, há longos anos. O primeiro tema da nossa primeira conversa foi política; Mas ainda agora a pena se recusa a violar a intimidade e pureza das ideias que analizámos, sinal de que ambos nos encontrávamos longe dos homens e das coisas, profundamente mergulhados na luz da razão pura.

Repetiram-se os encontros, sempre no mesmo sítio e ambiente, mas Pessoa, à terceira vez, bebia aguardente com extrema facilidade, e discorria literariamente com mais interesse do que brilho, mostrando pensar melhor do que falava e captivando-me, sobretudo, pela modéstia do seu porte e a ignorância em que parecia viver acerca do lugar que todos lhe davam já na nossa história literária.

Uma tarde, fomos surpreendidos pela visita do Ferreira Gomes, um artista que se afogou em álcool e ocultismos triviais, e eu pude ver que Pessoa o tinha em grande intimidade, durante uma longa conversa em que ambos me fizeram, alternando-se, a história do Orfeu. Pessoa não era má língua e a sua reduzida e selecta tertúlia tinha, naquela época, gravidade muito superior à média do botequim. Gomes foi, porém, homem típico de café, gostando de explorar as mazelas do semelhante, mormente as doas amigos em que se sentia mais instruido, e não poupava Pessoa sobre quem me quis impingir, logo que nos viu amigos, um juízo muito precário feito do álcool que ele ingeria e de outras particularidades que a poesia não explica e que o pensamento contraria. Mas eu, fiel ao princípio de que tudo que Deus fez ou deixou fazer não pode ser reparado por mim, tive sempre a impressão que a verdadeira diferença entre Pessoa e os Gomes da sua roda não estava no álcool e nos costumes mas apenas na inteligência…

Para o fim, Pessoa estava quase sempre só, no Martinho da Arcada, e era assim mesmo que eu gostava de o encontrar, ficando-nos tempos infindos a perfurar ideias e factos. Ele expressava-se com dificuldade; tinha voz de massa, pegajosa, hesitante, e, às vezes, tartamudeava. Mas nunca saí da sua beira sem uma ideia original, algum comentário valioso, qualquer frase lapidar.

Era um aristocrata da inteligência, cheio de sensibilidade e o seu espírito parecia viver num mundo misterioso de metáforas e liberdades poéticas que tão depressa desenhavam figuras de epopeia nacional como insinuavam segredos e mistérios universais.

Pessoa, posto que intelectualmente português, pensava em inglês e esse frio povo equilibrado e superior, com quem vivera e se educara, imprimira-lhe carácter indelével. Não no banal aspecto exterior dos usos e maneiras, mas em toda a sua psicologia, de modo que o poeta pôde trazer às letras pátrias intuições e expressões que surpreendem.

Um dia, já quando uma grande simpatia intelectual nos havia familiarizado, propuz-lhe um debate político-literário, a publicar, sob a forma de entrevista, num jornal da cidade. O Poeta achou  ideia interessante e em três ou quatro tardes consecutivas nós esgrimos, sósinhos, à mesa do café, num à vontade consolador, até esgotarmos os temas e a capacidade de discutir. Pessoa, naquela época, andava muito político; político, bem entendido, no campo doutrinário, porque ele não tinha, quanto me foi possível averiguar, a menor propensão para o exercício prático dessa arte, preocupando-se, apenas, mas aí deveras, com o problema das ideias. Considerava subalternos os homens da política, na medida em que são impedidos do culto superior das ideias puras, obrigados por todos os oportunismos a negarem-se constantemente, cedendo a razão pura à razão prática e caindo, deste modo, no cepticismo utilitário e materialista que estorva o desenvolvimento normal das grande conclusões do mundo espiritual e intelectual.

O nosso primeiro grande debate foi sobre o Cristianismo. Pessoa quis demonstrar-me que as diversas confissões religiosas fundamentadas no Cristianismo não só não realizam como traiem a verdadeira doutrina de Jesus. Ele estava, porém, certo e seguro de viver no perfeito entendimento do verdadeiro Cristianismo e toda a sua preocupação moral e intelectual visava a creação dos meios necessários à sua realização. Politicamente, o Poeta era, antes de tudo, liberal, deixando-me a impressão de satisfazer todas as suas convicções numa monarquia de tipo inglês.

– E em Portugal? Perguntei-lhe eu, de chofre, no meio da conversa.

– Portugal precisava e merecia uma Monarquia, mas considero-a absolutamente impossível, motivo porque voto pela República, sem qualquer hesitação.

O socialismo e o comunismo afligiam o seu espírito de escol, impressionando a convicção e o calor com que, na conversa, os punha fora de combate. Era um aristocrata da inteligência para quem os eleitos figuravam como sagradamente encarregados de promover o bem comum, tendo sempre em vista o dever de elevarem moral, económica e intelectualmente o homem decaído. O problema da liberdade, no estilo inglês, estava na base de todas as suas convicções político-religiosas. A tirania e a reacção afligiam-no, embaraçando-lhe a voz e aquecendo a sua conversa normalmente fria, opaca, de um clacissismo marmóreo.

– Mas você defendeu, em folheto público, a ditadura militar!, recordei-lhe eu, provocando a explanação do tema sugestivo e importante.

Pessoa não se surpreendeu nem embaraçou, respondendo-me, com firmeza:

– Tudo o que escrevi a esse respeito, deve ser dado como não escrito, pois as minhas ideias foram exploradas num sentido oposto ao que lhes dei e seria prejudicial estar, agora, a explicar-me.

Senti que o Poeta tinha razão, conferindo, mentalmente, a essência das suas conversas com a tradução tendenciosa que do seu escrito muitos haviam feito, e passei a novo assunto, dando-me por satisfeito.

Falámos, então, de homens, figuras proeminentes das letras e da política, vivas e mortas, pequenas e grandes, ridículas e dignas, vermelhas e brancas. Pessoa foi justo, quanto a mim, em todas as suas apreciações. Justo, elegante e digno, como, aliás, era seu timbre. Recordo-me que o poeta prestava homenagem a certas figuras políticas, não pelo que elas queriam fazer mas pelo que, com a sua presença, evitava que se fizesse… Nas letras, porém, dava-se a inversa: os presentes impediam o que se deveria fazer…

A nossa última conversa foi um debate dramático sobre os destinos desta grei. Aqui, o poetada Mensagem não foi claro comigo ou, então, eu não consegui entendê-lo. Pelo menos, confesso não ser capaz de reproduzir, com escrúpulo, as suas ideias. Pareceu-me messiânico, abstrato, confuso, cheio de reticências. Havia qualquer coisa de sebastianismo na sua visão restauracionista da unidade nacional. E o futuro apresentava-se dependente de tais rectificações políticas e religiosas, que a ideia predominante com que saí dessa conversa era a de um enorme cadinho em que a Nação Portuguesa estivesse a refundir-se.

Por fim, coordenei toda a matéria das nossas conversas e escreveu-se o trabalho, que Pessoa leu, já em provas impressas, meditadamente, em sua casa, acabando por dar assentimento à publicação, sem ter feito qualquer emenda. Não foi, por isso, sem alguma surpresa, que vi surgir Pessoa, à última hora, um tanto ou quanto embaraçado, a pedir-me, cabisbaixo, que não se fizesse a publicação do trabalho, – por motivos que mais tarde me explicaria.

Mais tarde! Mais tarde o grande poeta morreu, pobre e triste como vivera, sem nunca me ter dito uma palavra acerca desse assunto!

E eu rasguei as provas, já impressas, espalhando-as, simbolicamente, sobre a sua campa rasa…

E hoje reconheço que Pessoa faz bem em não deixar tornar públicas as nossas horas inesquecíveis do velho Martinho da Arcada. Descanse em paz, na mão de Deus, o glorioso poeta, pois delas não resta mais do que esta fotografia que tenho sobre a mesa de trabalho em que ele lê e eu ouço, à mesa do Café, alguns dos seus versos imortais.”

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Dos anos 1950 até 1985, ano em que o historiador se dedicou a escrever as suas preciosas memórias, já acima citadas, Fernando Pessoa volta nelas a ser extensamente abordado, nas páginas 433 a 435 da sua auto-biografia («Memórias de Costa Brochado», edição Livraria Popular Francisco Franco, Lisboa, 2ª edição, 1987).

O tom, no entanto, bem como a enumeração e o tecer dos factos, deixam já de glorificar um grande intelectual e poeta, passando a mostrar Pessoa, genericamente, como um pobre coitado, bêbado e onanista, desconsiderado na sociedade do seu tempo e destinado a apagar-se da memória nacional:

Conheci Fernando Pessoa quase no fim da sua vida e ainda assim mesmo foi ele que se me dirigiu… Eu dirigia, a esse tempo, o jornal A Verdade de que aqui tenho falado muito, periódico que Pessoa lia e admirava. Quando ele publicou o grande livro, de que ninguém fala, intitulado Mensagem, enviou-mo com uma dedicatória: “Ao Sr. Director de A Verdade, com os cumprimentos de Fernando Pessoa. 13.1.1935”

Ao mesmo tempo, visitou-me o seu íntimo amigo Augusto Ferreira Gomes, com quem eu muito convivia, de perto, para me explicar quem era o autor da Mensagem que estava disposto a falar comigo para A Verdade! Nessa ocasião, Fernando Pessoa não me dizia nada… Não tinha qualquer expressão pública relevante, do ponto de vista político, artístico ou literário, numa cidade em que se agitavam, digladiando-se, grandes poetas, escritores e jornalistas…

Toda a gente sabe que, em Portugal, os prémios literários foram sempre concedidos, como o próprio Nobel. não a um determinado livro, mas à fama do autor e sua obra… Os literas julgam que agora não é assim; mas eu afirmo que hoje é que é assim, mais do que sempre foi… Pessoa, coitado, passava obscuramente pelas ruas de Lisboa, sem ninguém dar conta dele, porque, sempre que escrevia era de tal forma hermético e confuso que ninguém o entendia. Uns tantos que com ele cultivavam o exótico e viviam do irritante, como o cabotino genial do Almada, alma de palhaço, que desenhava maravilhosamente mas não pintava nada, autopromoveram-se a mentores da intelectualidade indígena e tomaram Pessoa por Pontífice. mas só depois da sua morte…

Fernando Pessoa tentou a política, seu fraco mal escondido, somando-se aos redactores de A Águia, órgão da Renascença, movimento político-literário que reuniu o que de melhor contava. nas ciências, artes e letras, a 1ª República. Pascoais, Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Augusto Casimiro e tantos e tantos outros que, mais tarde, haviam de gerar a Seara Nova. Ora Fernando Pessoa andou com todos estes, tendo escrito muito em A Águia. Mas não se aguentou, como não havia de aguentar-se em nada. E quando saiu, Leonardo Coimbra havia de o definir como «o fracassado mentor de A Águia…» E como poderia ser de outra forma se ele se dizia monárquico, atacava ferozmente a República democrática, era germanófilo durante a Primeira Grande Guerra Mundial, em toda a sua obra póstuma se revela defensor do paganismo, defendia a escravatura, foi sidonista entusiasta e salazarista, até deixar de ser, o que nele era normal… Filosoficamente, Pessoa era discípulo dos três grandes filósofos do iluminismo germânico, tendo sido avariado pelo louco Nietzsche…

Ferreira Gomes, autor de um livro inspirado por Pessoa, O Quinto Império, propôs-me e pediu-me uma entrevista com o poeta. Depois de o ouvir a primeira vez, no Martinho da Arcada, senti que podíamos, talvez, escrever um livro cheio de interesse, do ponto de vista político-literário. Pessoa tinha um verdadeiro ódio pessoal aos principais políticos da 1ª República. Tratava-os como ignorantes, incapazes e cúpidos, chegando ao insulto soez, grosseiro, infamante. Tinha como o maior jornalista português Homem Cristo, autor de um livro, Banditismo Político, sem a leitura do qual não é possível fazer a história política do nosso tempo…

Das nossas longas conversas à mesa do café, ficou-me a impressão de que Pessoa era um homem de génio mas incapaz de provar, na ordem prática, qualquer valor útil à sociedade ou a cada ser, individualmente… Tinha a mania do esoterismo, que explorava, sem convicção, como mero exercício filosófico-literário… Não acreditava em nada mas fingia acreditar no que lhe conviesse de momento. Parecia muito preocupado com os destinos da Humanidade mas não tinha humanidade nenhuma: era seco, árido, frio, calculista, de um racionalismo geométrico que lhe permitia o lirismo e a doçura dos poetas lusitanos. Era talvez o nosso único grande poeta sem Amor. Ele não conheceu o amor! Diz-se que não há uma árvore na obra de Camilo; e pode dizer-se que não há uma mulher na vida de Fernando pessoa. Bebia de mais; bebidas brancas. E era onanista, segundo me garantiu o Augusto Ferreira Gomes…

Mandei compor a nossa primeira entrevista destinada ao livro que combináramos fazer. Levou as provas para casa e quando, passados dias, nos voltámos a encontrar no Martinho da Arcada, começou a mastigar desculpas indignas dele, naquela sua voz pegajosa e tartamuda que custava a suportar… E nunca mais nos vimos… E foi pena, porque o nosso livro teria evitado, hoje, alguns vexames à sua memória e vergonhas ao país. Destruía o mito…”

E como é possível, pergunta-se, que os factos e impressões expressos por Costa Brochado na década de 1950 tenham dado lugar, trinta anos mais tarde, a uma tentativa de assassinato do carácter e génio de Fernando Pessoa, com uma torpe massagem dos factos e memórias?

Aqui, naturalmente, fica apenas a minha opinião pessoal, reconduzida a dois vectores essenciais. O primeiro deles liga-se, sem dúvida, à descoberta dos inéditos anti-Salazar e Estado Novo, escritos por Fernando Pessoa, no ano da sua morte, por entre uma mala de papéis cedida a Jorge de Sena, para estudo, pela família de Pessoa.

Já exilado, no Brasil, foi Sena quem encaminhou, ao O Estado de S. Paulo, cópias dos fragmentos anti-salazaristas de Pessoa, que haveriam de ser publicados no suplemento literário daquele jornal brasileiro, em 20 de Agosto de 1960. Genericamente desconhecidos em Portugal, os escritos de Pessoa tiveram de aguardar pelo 25 de Abril de 1974, altura em que a recém-conquistada liberdade de imprensa nacional fez com que jornais como o Comércio do Porto e o Diário Popular, em Lisboa, os reproduzissem com grande brado.

É fácil adivinhar, por essa altura, um quase-horror de Costa Brochado – defensor de Salazar até ao último suspiro – com essa “traição” de Fernando Pessoa, a todos os títulos “imperdoável”. Se a isto juntarmos o sopro fervoroso com que no pós-25 de Abril a obra de Pessoa conhecia todas as reabilitações e (re)descobertas, somando-se a 1ª edição do «Livro do Desassossego» em 1982 e toda a pompa das homenagens a Pessoa em 1985, ano do cinquentenário da sua morte, é ainda mais fácil perceber que o rancor de Costa Brochado, prestes a publicar as suas memórias, “a sua verdade”, não poderia nunca deixar de guardar alguns parágrafos para “revisitar” Pessoa.

Psicologicamente, socialmente, moralmente, intelectualmente e politicamente, Fernando Pessoa nunca foi, nem quis ser, perfeito e conforme, normalizado e endeusável. Mas hoje, 125 anos depois do seu nascimento, é curioso ver como tantos, em todo o mundo, cada vez mais o consideram um Deus da literatura universal.

Ora, como cada divindade tem de ter também um seu contrário e/ou um seu delator, há uma sublime ironia nesta tão famosa foto, onde Pessoa, que a História já deu mostras de querer guardar para sempre, dá a “boleia” da notoriedade ao seu Judas, um Costa Brochado cujo nome e imagem sobrevivem, actualmente, pela mão de uma foto junto ao mesmo homem que tanto achincalhou.

Ricardo Belo de Morais, Oeiras, 8 de Setembro de 2013

Agradecimentos: José Correia e Teresa Afonso – Biblioteca da Casa Fernando Pessoa